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O bairro dos Barris está localizado na região central de Salvador, e se notabiliza por ser próximo do centro tradicional da cidade, abrigando edifícios importantes como a Biblioteca Central dos Barris e atraindo estudantes, aposentados e intelectuais, que movimentam a intensa rede de comércio e serviços locais, assim como sua proximidade com a Estação da Lapa gera um fluxo de pessoas e veículos intenso.Estando implantado sobre uma colina a 39 metros do vale de mesmo nome - o Vale dos Barris, o bairro conta com instituições de ensino médio e fundamental, sede de sindicatos, instituições políticas, centros religiosos e de ensino, estabelecimentos para o público GLS e clínica.
Nos Barris, são encontradas construções de diversas épocas, do final do século XIX aos anos 30 e 50, assim como atuais. Alguns casarões, hoje abandonados, sofrem ameaça de desabamento por falta de interesse dos proprietários.
No século XVII, O Conde de Barbacena, Felisberto Caldeira Branco Ponte de Oliveira e Horta que fez parte do gabinete de D. Pedro I e pioneiro nas máquinas a vapor no Brasil, foi também propietário de uma grande chacará em Salvador.
Esta chacará por herança passou as mãos dos herdeiros que iniciaram a ocupação do local.
No século XIX , instala-se ali o Terreiro de Candoble Axé Oxumaré, e nesse mesmo tempo a nobreza baiana começa a ocupar a localidade, assim como imigrantes árabes, espanhois e judeus, resultando em conflitos de convivência religiosa e econômica; os ricos não desejavam estar perto do local de culto dos escravos , enquanto os mulçumanos combatiam o fato de haver um centro de práticas infiéis. Então, deu-se a transferência do terreiro para onde até hoje se situa, na Avenida Vasco da Gama . A importância desse episódio é enorme na construção da identidade dos Barris, pois consolidou o uso residências e isolado que predominaria até meados da década de 1950 do Século XX , sofrendo conseqüentes alterações devido á expansão da própria cidade.
O nome Barris
Entre muitas versões, três se destacam por serem as mais citadas em estudos históricos.
Primeira Versão:
Barris é o plural de barril. Através de uma ladeira estreita chegava-se nas margens do Dique do Tororó em busca de água para uso doméstico. No local foram enterrados diversos barris visando com isto à melhora da qualidade da água que era ali apanhada, evitando que se levasse ou enchesse de sujeira.
Segunda Versão:
O nome "Barris" provavelmente se origina desse período, quando as casas ainda não possuíam rede de esgotos e cada moradia possuía um barril, onde eram depositados os dejetos que toda noite eram despejados pelos escravos numa área próxima, que passou a ser conhecida como Vaza Barris.
Terceira Versão:
Outros, como o historiador Cid Teixeira, dizem que o uso de BARRIS se deve a fatos menos escatológicos, e se destinavam a recolher a água abundante que brotava dos ricos mannciais nasencostas do bairro, utilizando grandes vasilhames para isso. Conta ainda que, por esse excesso d’água que existe até hoje no subsolo , o primeiro piso da Estação da Lapa está sempre úmido, prova de que é impossível “arrolhar” uma nascente.
Após estes breves relatos a despeito do nome do Bairro seguiremos com o estudo mostrando o seu desenvolvimento. Já no século XIX o local é habitado pela elite da sociedade baiana, formada de traficantes de escravo, comerciantes e imigrantes arabes, espanhois e judeus. A base da economia era agricula, com base na exploração escrava. Neste século a cidade de Salvador vive o esplendor do poder, da força da economia do açucar mas também o seu declínio pela crise das exportações do açucar, revolta dos Malês, perda de poder politico.
Fundação Nossa Senhora do Salete, hoje:
Com localização previlegiada, sobre uma colina a 39 metros do vale, são encontradas construções de diversas épocas do final do século XIX aos anos 30 e 50, assim como residência da elite, recebe também a instituição de ensino Nossa Senhora do Salete fundada pela Companhia das Filhas da Caridade à Salvador. A escola do Salete, hoje instituto, foi uma das primeiras edificações do bairro em 1858.
A conhecida Rua do Salete chamava-se Rua dos currais Velhos na região da biblioteca central, de acordo com moradores mais antigos estavam localizados a roça da família portuguesa Ferreira Moreira, desapropriada mais tarde pelo Estado. Em 1905 a Fundação Visconde de Cairú se instalou no bairro em área á frente do Salete, com a proposta de formar jovens para cargos de chefia.
Fundação Visconde de Cairu, hoje:
Sua ocupação se iniciou ainda no século XIX, a partir das ladeiras que partiam da Praça da Piedade, atingindo o alto da Rua General Labatut. Onde situava a casa, hoje desaparecida, considerada a maior e mais opulenta da cidade, no século XIX, que pertencia a Francisco Félix de Souza, o lendário Chachá Dundum, traficante de escravos e o homem mais rico da Bahia, no período. Um novo surto de progresso no bairro se deu entre os anos 30 e 50 do século XX, com a construção de residências, grande parte delas em estilo art déco, talvez o maior acervo da cidade, e outros em estilos diversos, inclusive pequenos edifícios residenciais.
A partir da década de 1930, o bairro passa por uma reestruturação, com novos loteamentos, ruas e praças, uma transformação das fachadas, se adequando ao estilo Art Deco, até então em moda, e a valorização da paisagem, com a colocação de árvores nos passeios que até hoje caracterizam o local, exclusivamente residencial, uma espécie de "caminho de árvores" da época, localizado no centro tradicional de Salvador, onde se vivia em relativa tranqüilidade, perto do trabalho e demais serviços que a cidade oferecia, servido por uma linha de bonde que passava na Rua do Salete e a General Labatut.
Prédioem estilo Art Déco , um dos primeiros de Salvador, no estilo:
Prédio
Casa em estilo Art Déco (anos 30/40):
Até a década de 50, não existiam ligações do bairro com o centro da cidade como existe hoje. O Vale dos Barris foi construído somente na década de 70, sendo o viaduto de São Raimundo uma das primeiras ligações. Nesse período o bairro inicia uma nova fase e passa por rápidas transformações até chegar à mistura que representa hoje: residência, comercial, cultural e com forte marca educacional. Algumas figuras ilustres fazem parte da história do bairro: o presidente Getúlio Vargas, nos anos 40, costumava se hospedar num sobrado na esquina das ruas General Labatut e Comendador Gomes da Costa; nos Barris também viveu a família do grande cineasta Glauber Rocha. Uma das principais mudanças foi à construção da sede a Biblioteca Pública do Estado da Bahia, em 1970. A biblioteca aumentou o fluxo de pessoas nos Barris.
Sua construção foi elaborada inicialmente pelo senhor de engenho Pedro Gomes de Ferão Castelo Branco foi o responsável pela criação da primeira biblioteca pública da America Latina. Inaugurada em 04 de agosto de 1911, a biblioteca pública da Bahia foi batizada como Livraria Pública da Bahia e funcionava na livraria dos jesuítas anexa a catedral basílica.
Em 1911 ela funcionava no palácio do governo (atual Palácio Rio Branco), quando o prédio foi bombardeado e seu acervo reduzido a quase 300 exemplares. Em 1919 ganhou sede própria no palácio Tomé de Souza, um lugar com capacidade para 100mil volumes, abrigou a biblioteca até 1970. Nesta época foi transferida para o atual prédio, nos Barris, com espaço e maleabilidade para atender o aumento do acervo e a demanda dos usuários.
Biblioteca Central, hoje:
Biblioteca Central, hoje:
As salas de cinema e vídeo localizadas no subsolo da biblioteca também são parte do charme do bairro. “Espíritos Indômitos (de Fred Zinnermann, 1950), a estréia de Marlon Brando no cinema”, foi um dos primeiro filme apresentados.
“Goddard, Truffaut, Buñuel, assisti todos aqui na sala Alexandre Robatto”, complementa. Aproveitando a cena propícia a uma cultura cinematográfica, o argentino Alejandro Mariani, 40 anos, conta que esse foi um dos motivos que lhe fez escolher a porta da biblioteca como ponto de venda de DVDs. Documentários políticos, vídeos ambientais e filmes clássicos são os produtos comercializados. Alejandro explica: “Estou sempre envolvido em política. Essa é minha forma de viver e de fazer militância”.
Ao lado de seu ponto, encontramos os vinis usados vendidos por Maria Lucilene, 52 anos. De Ray Conniff à Gretchen (Freak Le Boom Boom!), passando pelo top ten. da Lambada e coletâneas de música clássica. A variedade impressiona. Maria Lucilene e Alejandro comentam que os estudantes são parte importante de seu público consumidor. A maioria são pré-vestibulandos que percorrem o bairro com seus módulos, camisas de festivais de forró e sotaques baianos dos mais variados. Muitos habitam as pensões distribuídas pelo local, outros vivem nas repúblicas que existem nos Barris, como a Casa de Estudantes de Ibititá. Quase todos buscam uma vaga na “federal” (Universidade Federal da Bahia).
No início da década de 80, a construção da Estação da Lapa contribuiu também para o novo perfil do bairro. Surgem edificações, alimentadas pela facilidade do transporte público. Instituições de educação se firmam no bairro, tanto pública quanto privada. Pouco tempo depois, em 1985, a chegada do Shopping Piedade e, em 1996, do Center Lapa, fortalece o caráter comercial dos Barris.
Rua Junqueira Aires (acesso à Piedade):
Nessa mesma década, o Complexo policial dos Barris é instalado no vale. Seguindo uma linha arquitetônica de forma arredondada, o Complexo abriga o Departamento de Tóxico e Entorpecente e sua respectiva delegacia (DTE), a Delegacia de homicídios (DH), e a Primeira Circunscrição policial (1CP).
Sem grandes badalações, a noite nos Barris conta com o espaço cultural, bar e pizzaria Beco da Rosália como uma boa atração. Inaugurado em 2005, o estabelecimento com ares alternativos traz apresentações musicais de função bem mais que ambiental. Chorinho, samba-de-roda e guitarra-baiana com bandolim animam as noites do Beco. Conceição Santa, 38 anos, a proprietária, afirma: “aqui, a música é toda voltada para a MPB, nada de Psirico!”, explica. Na parte interna “do Beco”, fotos, pinturas e inscrições dos freqüentadores tomam quase a totalidade das paredes, compondo o espírito criativo do local. Já seu nome, tem uma origem “menos alternativa”, sendo uma homenagem à mãe do antigo proprietário.
Contando com sedes de partidos políticos (PCdoB) e de filosofias de vida de origem oriental, como a Seicho-No-Ie, teatro e galeria de fotografias, realmente, os Barris parece ser um bairro que guarda conversas próprias que pouco circulo pela cidade, ou melhor, que se dissipam nela, ao encontrar o frenesi do cotidiano, talvez vazando ali pela ladeira da Rua do Salete, onde o bairro acaba.
Situação atual dos Barris na visão dos seus moradores
“Barris: um bairro onde quase tudo mudou”. Para tristeza de muitos, estas mudanças não renderam benefícios esperados para a melhoria da qualidade de vida daqueles que nele vivem ou viveram nos últimos 30 anos. Apesar do aumento da renda percapta da sua população e da arrecadação municipal, através dos tributos e impostos oriundos do aumento das atividades comerciais, nenhuma intervenção de impacto social e de infra-estrutura foram realizados Poder Público Municipal nos últimos tempos. Como conseqüência, os problemas urbanos e sociais foram se avolumando e piorando vejamos: pavimentação das ruas, travessas e ladeiras em péssimo estado; passeios degradados; iluminação pública deficiente; limpeza pública deficiente; praças de esporte e jardim mal cuidado; e para finalizar, drogas e assaltos.
REFERENCIA BIOGRÁFICA:
Jornal Informativo do próprio bairro,
Projeto Barris Limpo, informativo numero 1, Ano 1 Outubro de 2010
O nomes das ruas contam histórias
Luiz Eduardo Dória
Arquvo Histórico Municipal
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